O Banqueiro Anarquista




Há muitos anos tinha lido esse texto, mas de repente me deu vontade de lê-lo novamente. O título é ambíguo, mas ao longo da narrativa, percebe-se que não é tão surreal um banqueiro-anarquista.
A história se inicia quando narrador e, também personagem, pergunta ao banqueiro se ele foi anarquista. “Tínhamos acabado de jantar. Defronte de mim o meu amigo, o banqueiro, grande comerciante e açambarcador notável, fumava como quem não pensa. A conversa, que fora amortecendo, jazia morta entre nós. Procurei reanimá-la, ao acaso, servindo-me de uma idéia que me passou pela meditação. Voltei-me para ele, sorrindo. - É verdade: disseram-me há dias que V. em tempos foi anarquista...”
Então, ele responde que ainda é anarquista e, a partir daí, começa a explicar sua lógica de por quais motivos ainda o é.  Já que repudia as ficções sociais, que produzem diferenças entre os homens. Enquanto as diferenças naturais são legitimas, porque não existem subterfúgios como um indivíduo nascer numa classe abastada, tornando-se melhor que o outro.
O homem precisa ser ele mesmo, para ser livre. Desenvolvendo suas potencialidades naturais, sem influência das ficções sociais, que são construções teóricas.
Começou a estudar o anarquismo profundamente e começou a perceber uma hierarquia entre os indivíduos do movimento, formando um novo tipo de tirania de uma nova ficção social, a dos oprimidos que subjugam outros oprimidos. Logo, uma revolução não se faz com tirania.
“Para o anarquista, é claro, quem está num lugar de inimigo, é qualquer representante das ficções sociais e da sua tirania; mais ninguém, porque todos os outros homens são homens como ele e camaradas naturais. Ora, V. bem vê, o caso da tirania, que tínhamos estado criando, era exercida sobre homens como nós, camaradas naturais, e, mais ainda, sobre homens duas vezes nossos camaradas, porque o eram também pela comunhão do mesmo ideal.  Conclusão: esta nossa tirania, se não era derivada das ficções sociais, também não era derivada das qualidades naturais; era derivada duma aplicação errada, duma perversão, das qualidades naturais. E essa perversão, de onde é que provinha?''”
Conclui que essa perversão se origina do homem ser naturalmente mau. Inclusive, a perversão ser consequência da longa permanência da humanidade numa atmosfera de ficções sociais.
Depois de perceber isso, finaliza que ele e seus companheiros precisam agir sozinhos, assim não haverá mais a tirania. Ao compartilhar com eles essa teoria, recebeu duras críticas e resolveu abandonar o movimento, contudo não deixou de ser anarquista. Pesquisou o caminho que poderia ser livre; pensou viver como selvagem, mas estaria fugindo. Decidiu que dominaria o capital, tornou-se banqueiro. Diferente dos anarquistas que corrompiam suas ideias originais, cometendo barbáries.
 “Trabalhei, lutei, ganhei dinheiro; trabalhei mais, lutei mais, ganhei mais dinheiro; ganhei muito dinheiro por fim. Não olhei o processo - confesso-lhe, meu amigo, que não olhei o processo; empreguei tudo quanto há - o açambarcamento, o sofisma financeiro, a própria concorrência desleal. O quê?! Eu combatia as ficções sociais, imorais e antinaturais por excelência, e havia de olhar a processos?! Eu trabalhava pela liberdade, e havia de olhar as armas com que combatia a tirania?! O anarquista estúpido, que atira bombas e dá tiros, bem sabe que mata, e bem sabe que as suas doutrinas não incluem a pena de morte. Ataca uma imoralidade com um crime, porque acha que essa imoralidade pede um crime para se destruir.”
Como escrevi anteriormente se observarmos ao longo a “História da humanidade” observaremos que quando se juntam pessoas, sempre haverá desvirtuamento das propostas originais. Mas, não é para se desanimar! Pelo contrário, o debate de ideias e cada vez mais refletir sobre o que acontece, ajudando para construir um mundo melhor e possível.
Depois de ler O Banqueiro Anarquista, minha cabeça fervilhou de pensamentos. Mesmo que não concorde com alguns pontos ou não tenha entendido outros, fez-me pensar o que acontece no Brasil e no mundo.


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