O espelho Esboço de uma nova teoria da alma humana de Machado de Assis





Li este conto há muitos anos e de algum jeito ele me fez compreender certas coisas da vida. O que me chama mais a atenção é o fato de como é atual. 

A narrativa começa com em encontro numa casa cidade da cidade em Santa Tereza, onde um grupo de homens discutia sobre “várias questões de alta transcendência, sem que a disparidade dos votos trouxesse a menor alteração aos espíritos”. Vale lembrar que o bairro de Santa Tereza no século dezenove é completamente de diferente de hoje em dia. 

Primeiro, o narrador se questiona se eram quatro ou cinco, mas, depois, percebe-se que esta “confusão” é proposital, porque o quinto homem que não dizia nada, irá revelar uma teoria singular sobre a alma. O narrador o caracteriza como “homem tinha a mesma idade dos companheiros, entre quarenta e cinqüenta anos, era provinciano, capitalista, inteligente, não sem instrução, e, ao que parece, astuto e cáustico.”.

 Começa a contar para os outros que possui uma teoria de que a alma se divide em duas: “uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para entro...”. Por exemplo, que um botão ou outro objeto pode ser a alma exterior de um indivíduo, além, de outros elementos como um fluido, um homem, muitos homens, uma operação( " faculdade ou uma ação, um órgão e etc que, segundo sua natureza, produz um efeito. Ou, conjunto de atos ou medidas em que se combinam os meios de obtenção de determinados resultados ou de determinados objetivos( políticos, militares, financeiros, sociais e etc.").

A segunda alma é transmiti a vida, como a primeira e as duas completam o homem. Vale lembrar que a alma interna é o lado individual e particular, o qual está por de trás da persona social. Bem, esta foi minha interpretação particular, ok. 

Depois, conta sobre sua experiência de quando foi promovido para alferes e todos começaram a olhar diferente para ele. Uma tia o convida para passar um tempo no seu sítio. Ela como os moradores e os escravos o bajulavam, chamando-o se “senhor alferes” pra lá é pra cá. De repente, o prestígio que ele conquistou se sobressaiu em relação ao seu indivíduo. “- O alferes eliminou o homem. Durante alguns dias as duas naturezas equilibraram-se; mas não tardou que a primitiva cedesse à outra; ficou-me uma parte mínima de humanidade. Aconteceu então que a alma exterior, que era dantes o sol, o ar, o campo, os olhos das moças, mudou de natureza, e passou a ser a cortesia e os rapapés da casa, tudo o que me falava do posto, nada do que me falava do homem. A única parte do cidadão que ficou comigo foi aquela que entendia com o exercício da patente; a outra dispersou-se no ar e no passado.”

Aconteceu uma emergência qualquer e a tia de que se ausentar do sítio, deixando o “alferes” sob os cuidados dele. Quando ficou só, os escravos fugiram e ele ficou sozinho, sem os elogios e os grados. Este fato foi pior que a morte, pois ele se sentiu na beira do abismo. Quando se olhou ao espelho antigo e imponente da casa, não se reconhecia e não conseguia se olhar nitidamente. O mal estar passou ao vestir o uniforme de alferes. 

Enfim, este conto é atualíssimo, já que evidencia como nos ligamos muito para aparência e status e nos esquecemos da “alma interior” dos outros. Todavia, confesso, que foi minha primeira impressão quando li o conto anos atrás. Agora, percebo que interpretei de um jeito um pouco maniqueísta sobre a alma exterior e a alma interior. 

 Na verdade, Machado explicita nesta história que nossa existência não é uma, mas fragmentada. Somos o que somos e, também, o que os outros pensam de nós. Não se pode viver sem um destas partes. Por isso, que, no conto, o personagem argumente que a alma é como se fosse duas laranjas. Quem perde uma das metades, perde naturalmente metade da existência. Ainda há e casos em que a perda da alma exterior implica a da existência inteira.

No meu ponto de vista revisado do conto, percebi como Machado de Assis percebeu um achado da alma humana e que quando não há um equilíbrio entre as duas partes dela, o indivíduo se perde. Precisam-se conciliar nossas máscaras sociais e nosso lado individual para não cair do precipício da existência humana.

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