Anton Tchekhov (29/01/1860, Taganrog, Rússia 14 ou 15/07/1904), Badenweiler, Alemanha



Acabei de ler suas duas peças O jardim dos cerejais( 1904) e Tio Vânia( 1897). Tive a mesma impressão quando o livro de contos A DAMA DO CACHORRINHO [e outras histórias] de Tchékhov   do mesmo autor.  Tchékhov é um dos escritores fundadores da literatura contemporânea. Produz textos sintéticos, que mostram a complexidade do ser humano. Seus personagens são mesquinhos, prosaicos, sonhadores e resignados. Não há heróis, só pessoas vivendo e tentando driblar o cotidiano tedioso.

O conto que leva o título do livro mostra a originalidade do escritor, pois trata a infidelidade não com cores românticas ou trágicas. Os protagonistas são pessoas presas em casamentos infelizes, que tentam viver a verdade do amor. Há uma inversão de valores: o casamento é uma ilusão, enquanto o amor do adultério é a verdadeira essência dos dois. Entretanto não tinham forças para fugirem: “ E parecia que, mais um pouquinho, a solução seria encontrada, e então uma nova vida começaria, uma vida maravilhosa; porém, para ambos estava claro que ainda estava muito longe o fim e que o mais complicado e difícil estava apenas começando.”. Neste conto não há uma tragédia fatal para os amantes pecaminosos. 

As duas peças não há um ato trágico também, os personagens vivem presos em um cotidiano enfadonho, onde as desigualdades sociais toda hora expostas na Rússia do final do final do século dezenove e início do século vinte. 

Em o jardim dos cerejais: Uma família nobre decadente. Os irmãos Liuba e Gaiév continuas a viver nos tempos áureos de antigamente, quando eram senhores de enormes terras e posses. Falidos, não sabem o que fazer. O interessante é a relação com empregados e até escravos, como o velho empregado Firs, não viveu sua vida, dedicando aos patrões toda a existência de vida. 

Mas, o novo mundo chega para aniquilar o passado, através do personagem negociante Lopakhine, que era um camponês e tinha uma relação de amor e ódio com os irmãos nobres. A casa e o jardim de cerejais, considerado o mais belo de toda a região da Rússia. 
Tio Vânia narra como é sufocante viver no interior. E a rotina maçante, quando um professor e sua jovem esposa vão passar uns tempos na fazenda, provocando sentimentos conflitantes. O casal não trabalhava, vivia-se imerso em um mundo ideal. 

Enfim, as duas peças fazem um crítica às pessoas tolas que se acham eruditas, nobres preguiçosos, os quais nunca colocaram mão na massa e transformam suas vidas vazias. 

Em contrapartida, mostra que um indivíduo autômato que só trabalha, foge de si mesmo e de pensar sobre o mundo. Principalmente para observar a relação do homem e a natureza. Em Tio Vânia, há o personagem do médico que se preocupa com a devastação da natureza e como as florestas estavam diminuindo, devido ao progresso devastador da modernidade. 

As duas peças falam sobre nós, como podemos ser mesquinhos.  Por isso, são tão contemporâneas. 

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